sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Alem dos olhos


Além dos olhos.

Material dedicado a todas as mães que possuem filhos dependentes e ex-dependentes químicos, guerreiras pela batalha que vive e especiais pelas vitórias conquistadas.

Alguns caminhos trilhados, independente do sobrenome ou endereço, são comuns a todas as mães, porque a família é diferente, mas o problema é comum a todas.:  A dependência química.
Não existem receitas mágicas para superar os problemas, seu e de seu filho, mas existem exemplos e experiências  já vividas, que podem servir de parâmetros para muitas mães que ainda estão em águas revoltas, sem saber a direção a ser seguida.

Não tente solucionar todos os problemas de uma só vez,  isto é humanamente impossível, comece por etapas a sua caminhada, vá reaprendendo a viver, a lidar com os problemas, a contornar os obstáculos, e vá adquirindo forças para a grande luta, onde a recuperação do seu filho, e sua, é o troféu desejado.


1ª. etapa.:
Enxergar além dos olhos.
Para uma família reconhecer a dependência química dentro do seu lar, todos os colegas, vizinhos, amigos e inimigos já sabem do problema, mas, por medo, descaso ou precaução, ninguém tem coragem de chegar para a “mãe inocente” e soltar a bomba.: Teu filho está consumindo drogas.
Aprenda a reconhecer os sintomas estranhos que estão ocorrendo em sua casa, o comportamento emocional do seu filho, seus fusos horários, sua alimentação, seus objetos pessoais. Mãe é detetive em tempo integral, e, além da lupa, tem que andar com a “bola de cristal”  a tiracolo. Tenha sua percepção em alta e acredite na sua intuição, no seu sexto sentido, é preferível pecar por excesso que por omissão.
Nunca pense que droga, AIDS, malária e acidentes só acontecem na casa do vizinho. Na atual sociedade, todos estamos à mercê desses problemas, porque a educação aos filhos a cada dia torna-se mais difícil, em compensação o traficante está na esquina da sua casa ou na escola do seu filho.

2ª. etapa.:
Reconhecer a incapacidade de lidar sozinha com o problema.
Toda mãe tem um “quê”  de super-heroína, mas em se tratando da dependência química, ser heroína é exatamente reconhecer sua fragilidade, reconhecer que sozinha o fardo é muito pesado e os resultados inadequados para o tamanho do problema. Seja realista, o milagre vem da capacidade de dizer.: “Eu sozinha não consigo resolver este problema”.  Porque você, mãe, quando descobriu a dependência química, muitas águas já rolaram “por debaixo da ponte” do seu filho, e a ponte já está “encharcada” de problemas, de vícios, de rebeldia.


3ª etapa.:
Buscar ajuda nos lugares certos.
Quando bate o desespero, a mãe quer se agarrar a qualquer ponto de apoio justificável, e “abelhudos”  sempre vão existir. Muitas mães tendem a acreditar em “encosto”,  em “praga”, em “macumba”, muitas chegam a acreditar em “trabalho feito pela fulaninha”,  quando na verdade, o “trabalho” foi o ato da ingestão da droga, e isto causa danos irreparáveis,  mas que podem ser contornados por métodos alternativos.
Há muitos lugares onde a “recuperação da conta bancária” é mais prioridade que a recuperação do seu filho. Cuidado com fórmulas “milagrosas”, para a dependência química não existe “remédio milagroso”.



4ª. etapa.
Reconhecer o tempo como um grande aliado.
São raríssimos os casos bem sucedidos de “tratamento relâmpago”.  A dependência do seu filho não foi “relâmpago”, foi uma seqüencia  de consumo, abusos, excessos... O tratamento não é só uma desintoxicação da droga no organismo, é principalmente um divisor de vida.: Do antes... Do agora... Seu filho vai reaprender a viver, vai reaprender a viver sem drogas, vai reaprender a ser feliz sem drogas, e ser feliz, sentir felicidade “limpo”, sem drogas, é difícil, porque o cérebro já havia se acostumado à “lapada relâmpago de felicidade”  na hora do consumo... É muito difícil achar graça na vida de “cara limpa”. Para reaprender a viver é preciso tempo.


5ª. etapa.
Se familiarizar com todas as nuances da dependência.
Há um dito popular que diz.: Fique próximo de seus amigos e mais próximo ainda dos seus inimigos, então conheça tudo o que se refere à dependência química, os sintomas, as seqüelas, as reações, familiarize-se a tudo relacionado ao “grande inimigo”, bem como aos “métodos e amigos” , os leva-e-traz da droga. Não tenha medo de aprofundar-se neste submundo, de conhecer o inimigo. O conhecimento desmistifica  muita coisa e faz o medo diminuir... Medo de que o filhão não se liberte, medo de que você não consiga ser forte o suficiente, medo do desmembramento da família...


6ª. etapa.
Supere a vergonha
Aquela sensação de “fogo no rosto”, aquela vontade de tornar-se invisível, aquele “torção nas tripas”, aquele nó na garganta, e todas as outras “provas de fogo” que a mãe tem que passar quando o assunto vem à baila, quando as ações controvérsias do filho surgem  nos comentários, nas reclamações, nas ações do dia-a-dia que você tem que conviver, é como se o inimigo te fizesse se curvar, quebrando sua resistência como se você fosse um inseto invertebrado, e o mundo se fecha na sua vergonha.
Este é o momento em que achamos que nós também chegamos ao “fundo do poço”, porém infelizmente este ainda não é o fundo do poço, mais provações virão, portanto está na hora de começar a achar forças para superar mais isto, para encarar o mundo de rosto erguido, afinal, você não é uma “bandida”, você é mãe, você é vítima, e você merece respeito.


7ª. etapa.
Apaixone-se por você mesma.
Primeiramente  ame-se, se cuide, depois conquiste o respeito do restante da sua família, conquista esta que vem com ações, com comportamento de coragem, atitudes sadias, raciocínio claro, e por fim, respeito da sua própria comunidade, afinal, não é você quem  anda “tomando emprestado” tênis, roupas, aparelho eletrônicos para penhorar na “boca”, para trocar por drogas, convença-se a você mesma, depois ao mundo aí fora... Evite porém a imagem de “coitadinha”.: “Hô coitada, o filho dela é um...”.  Prefira a imagem de mulher batalhadora, de garra, de coragem, de fé, conquiste o respeito e o auto-respeito... Não tenha mais medo de se olhar no espelho e ver nele o reflexo do fantasma de si mesma.
Corte seu cabelo, pinte suas unhas, tire os cascões de seus pés, passe um batonzinho suave, use um perfume especial, leia, faça um curso,  aprenda a ter voz ativa, pare de dizer somente sim... sim... sim...  para todos...  se esta não é a sua vontade.


8ª. etapa.
Tente o diálogo com seu filho.
A palavra “tente”  é proposital, porque nem sempre o diálogo é fácil, porque, aos olhos do filho, você é a “inimiga”  que vai rechaçá-lo, criticá-lo, tentar tirar dele a “felicidade química”, e isto é muito doloroso para ele, é como um “divórcio”, e quem está apaixonado não quer se divorciar, e ele está “apaixonado pela droga”, e o inconsciente domina o consciente, o desejo de “ser feliz”  supera a vontade de ser livre, livre das drogas.
Mas não há barreiras para o amor,  então use esta arma para se aproximar do seu filho. Tente uma vez, duas, três, dez vezes, iniciar um diálogo, mostre seu amor, mas mostre também que não está a fim de afundar com ele, que não é por ser mãe que você irá “segurar vela” para esse “amor  da morte”... Dele com a drogas. Converse, abra seu coração, abrace, beije, e chegará o momento em que ele pedirá ajuda.


9ª. etapa.
O problema financeiro – aliado ou inimigo.
Quando o filho pede ajuda surge um outro problema – Dinheiro. Porque o tratamento exige dinheiro, não é só dizer... Ele vai se tratar... Existe todo um processo envolvendo recursos que nem sempre há disponibilidade, principalmente porque, entre o período do vício e o momento do pedido de socorro, muitos ¨tropeços financeiros¨  já houve na sua casa. Portanto, quando ocorre o “momento mágico”  do pedido de socorro, é hora de pedir ajuda onde for possível, porque provavelmente novos horizontes poderão surgir para você e seu filho, a partir de um tratamento.


10ª. etapa.
Saudade, alívio e sentimento de culpa.
Ao internar um filho, toda mãe diz.:  - “Tenho esperanças que ele sairá um novo homem, recuperado...” . Mas lá no fundo uma sensação de alívio danada toma conta da gente, e, junto com esta sensação vem também um sentimento de culpa por este sentimento egoísta por “ver-se livre do filho”, só que esta sensação  de alívio é normal, afinal mãe, você é somente um ser humano que carregou um fardo pesado por muito tempo. Não é fácil ser mãe de um dependente químico.  Após as sensações contraditórias após a internação, vem a saudade, use esta saudade como elemento químico entre você e seu filho, escreva milhares de cartas para ele, não se envergonhe de mandar 3 cartas na mesma sexta-feira, isto faz parte do tratamento, seu e dele, aprenda através das cartas a transmitir sensações, pois essas sensações são bálsamos para o coração doído e o corpo cansado do seu filho. Alimente-o com suas palavras de amor, esperança e fé.




11ª. etapa.
Voltar aos bancos da escola.
Reaprenda a ser mãe, esposa, mulher. Reaprenda a viver, procure ser uma nova pessoa para quando ele sair da internação, uma pessoa mais forte, uma pessoa alegre, uma pessoa feliz, pois você sendo uma pessoa consciente e esclarecida, tem muito mais probabilidade de saber pegar na mão do seu filho e conduzi-lo novamente ao nosso mundo de riscos, tentações e fantasias. Freqüente  grupos de auto-ajuda, inteire-se de resultados positivos, e também negativos para não cometer os mesmos erros. Participe de sua comunidade. Não se esconda debaixo da cama. Seja uma nova mulher, uma nova mãe, para que ele seja também um novo homem, um novo filho, longe das drogas.


12ª. etapa.
Só o corpo não consegue caminhar.
Arrastar-se pela vida, rastejar de tristeza, ser um poço ambulante de lamentações não trará nunca elementos de força para a vida, nunca te fará uma mulher forte.  O maior ELEMENTO que poderá te impulsionar a uma nova vida chama-se FÈ.
E esta fé se consegue através do diálogo pessoal com DEUS. Sem ele você será sempre somente uma casca, um envólucro sem conteúdo. Esta força não surge do nada, esta força se adquire no hábito e na experiência da oração, da esperança, do sorriso e da crença de um DEUS SUPREMO, que dia-a-dia será uma sementinha que vai germinando na sua vida, criando raízes e gerando frutos para uma vida espiritual mais harmoniosa.
Aprenda a ser livre do medo e DEPENDENTE DO AMOR DE DEUS  .


Agda Meneses

e-mail     agdademetrio@gmail.com