Um novo jeito de sentir.
Caminhei por mundos tenebrosos, onde a vida era somente frestas de luz, uma luz toldada de drogas, de rebeldia, de revolta e medo. Mas este medo se evaporava quando eu conseguia mais drogas, porque eu ficava “forte”, ficava “feliz”, era “livre”, e com isto eu ia levando minha vida, cada dia mais longe da minha família e mais perto da “boca”.
Foi difícil o momento em que pedi ajuda, pedi socorro, porque eu sabia que iriam me tirar todo o prazer da vida, toda a sensação de felicidade. Eu não era tolo, eu sabia que meu organismo ia gritar por drogas, por prazer, por sensações inebriantes, e eu ia continuar, por muito tempo, a ser escravo da vontade, escravo da droga, escravo da dependência química.
Fui atrevido, porque interrompi meu tratamento pela metade, não porque eu tivesse a certeza que iria conseguir sentir felicidade sem uma “cheirada”, mas porque a claustrofobia do isolamento estava me levando ao desespero, mas também porque acreditava na minha família, ela foi a guia mestra que me guiou no meu período de recuperação.
Hoje estou a três anos sem drogas, mas aprendi a respeitá-la, não a afronto, não frequento seus pontos, não preciso provar para ninguém que sou forte e posso passar por cima dela, porque a minha força maior está no respeito ao divisor.
Reaprendi a educar minha mente, pois a plena recuperação não está só no corpo, só no organismo, está também na mente, porque somos o que pensamos, somos o que sentimos, e para sentirmos coisas boas, temos que pensar coisas boas, viver coisas boas.
Não digo que não me lembro de drogas, lembro da “lapada” da sensação boa, porém, melhor que esta sensação, é a certeza que fui mais forte que ela, que a venci, que consegui descobrir sensações novas, sentimentos novos, atitudes limpas, hoje eu olho o mundo de frente com a certeza que sou um vencedor, porque venci a mim mesmo, venci o medo de não ter alegria pura sem drogas.
Hoje meu riso é limpo, minhas emoções são sinceras, hoje minha capacidade de amar se estende a outros, e não somente a mim mesmo, porque hoje eu sou EU, um eu sem drogas, sem vícios e sem medo.
Olho meus filhos e sinto orgulho de ser um homem capaz de amá-los, alimentá-los, educá-los, porque hoje sou auto suficiente emocionalmente, não preciso de drogas para me sentir feliz, porque o olhar dos meus filhos para mim, seus risos e seus carinhos inocentes são mais inebriantes que a sensação das drogas, é a sensação da VIDA.
(Declaração do meu filho, 3 anos após sair da internação da clínica de recuperação de dependentes químicos).
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