quarta-feira, 13 de junho de 2012

Efeitos Colaterais - Sentimento de Culpa


Sentimento de culpa

O sentimento de culpa é o peso interior, é o sofrimento obtido após reavaliação de um comportamento passado tido como reprovável por si mesma.

A base deste sentimento, do ponto de vista psicanalítico, é a frustração causada pela distância entre o que não fomos e a imagem criada pelo que deveríamos ser, ou ter feito, ou ter sido.

É bastante concebível que tampouco o sentimento de culpa produzido pela civilização seja percebido como tal, e em grande parte permaneça inconsciente, ou apareça como uma espécie de mal-estar, uma insatisfação, para a qual as pessoas buscam outras motivações.

Quando há a ocorrência da dependência química do filho, a presença do sentimento de culpa se torna uma constante na mãe, e, se mal trabalhado, destrói o emocional da mesma, pois a faz se sentir incompleta, falha e cheia de remorsos.

Situações onde ocorre o sentimento de culpa.:

Eu sempre trabalhei fora, no intuito de proporcionar um futuro melhor para meu filho. Minha infância e adolescência foi muito carente de bens materiais, e não gostaria que meu filho passasse pela mesma situação. E nesta busca do sucesso material não acompanhei o desenvolvimento do meu filho, não procurei saber quem eram seus amigos... E só percebi que algo estava errado, quando ele já era um dependente químico...


Me criei num sistema familiar muito fechado, sem direito de voz e sem liberdade, e não quis este mesmo sistema para meus filhos, porque sempre acreditei que a melhor maneira de ensinar meus filhos a serem auto suficientes  seria deixá-los caminhar com os próprios pés, só que essas passadas livres os levaram para o mundo das drogas.

Criei meu filho no rigor da ordem, no cabresto da obediência, porque acreditava que para melhor educá-lo, seria ensinando-o a ser obediente, educado, sempre “na linha dura”, porque uma boa educação se ensina em casa, só que, na surdina, ele se rebelou de tanta rigidez, e deu seu grito de independência, e a melhor maneira de se rebelar foi consumir drogas.

Procurei sempre ser uma mãe amorosa, moderna, e sempre acreditei que não era prendendo meu filho na barra da minha saia que eu o faria se livrar dos perigos do mundo, só que eu estava errada, e tanta liberdade o levou às drogas, e hoje acredito que, se eu tivesse sido mais vigilante, mais rigorosa, isto não teria acontecido.

Minha timidez nunca me permitiu me sentar e ter um diálogo com meu filho, porque sempre tive vergonha de tomar esta iniciativa, e me acomodava porque achava que, se ele tivesse seu quarto arrumadinho, sua roupa lavada e passada, alimento na hora certa, eu estaria desempenhando meu papel de mãe, e depois que descobri que ele havia se tornado um dependente químico me culpo por isto, porque deveria ter sido mais presente... mais amiga...

Mães, em todos os aspectos que se analisa a dependência química do filho, sempre se acha motivos para se culpar, porém, nunca, em nenhum momento, você o levou “à boca”, nunca lhe acendeu um cigarro de maconha, nunca lhe deu uma cheirada de pó ou uma picada de heroína.

Quer seja uma mãe moderna, rígida, hiper profissional, tímida, não importa, você sempre foi “mãe”, sempre quis o melhor para seu filho, amou-o e educou-o, sempre o colocando em primeiro plano, muitas vezes se anulando em prol da felicidade do filho.

Quando houve a dependência química, foi porque algo além do seu poder se sobrepôs entre seus ensinamentos e a vontade do seu filho, entre seus conselhos e a vontade dele de conhecer “algo diferente”, onde o diálogo com o aliciador foi mais “suave” que suas palavras, onde o “papo”  com o traficante foi mais interessante que o seu papo.

Não foi porque você não soube conversar, não foi porque você não soube vigiar, não foi porque você não soube educar, não foi porque você não soube amar, e sim porque a “curiosidade” dele foi maior que toda sua boa vontade de mãe.

Carregar a cruz do sentimento de culpa não irá lhe ajudar agora, porque este sentimento tolhe sua força, e você precisa dela pra ajudar seu filho, pois se você permanecer com este sentimento negativo, ele lhe tolherá para baixo, e você precisa seguir adiante, ao lado do seu filho, amparando-o, porque sua caminhada está apenas começando, e você deverá se livrar de todo o “peso morto” da culpa.

Você é um ser humano, e, mesmo errando, é buscando acertar, é fazer o melhor, é criar âncoras para proporcionar sempre uma vida melhor para seu filho, e isto é louvável, e mais louvável ainda será quando, ao final de uma caminhada vitoriosa, você olhar para seu filho recuperado, e sentir que a caminhada foi válida, porque o seu filho renasceu para uma nova vida.

Viva em função de uma esperança, tenha fé na caminhada e acredite na força de vontade de seu filho, doe amor, doe carinho, partilhe forças, e acredite que, se você permitir que Deus partilhe sua caminhada, ilumine seus caminhos, a vitória virá, e a vitória será uma declaração tão comum a todos os ex.: “Agradeço a Deus e à minha mãe, que nunca me abandonou e acreditou em mim”.

Substitua o sentimento da culpa pelo sentimento da fé, substitua a angústia pela esperança, a tristeza pela certeza de que tudo dará certo, porque quando acreditamos que “Para Deus nada é impossível” e se ambos, você e seu filho, realmente quiserem que a dependência química seja apenas um rasgo no passado, a vitória virá, e uma nova vida surgirá.

Agda

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