sábado, 15 de junho de 2013

As drogas na adolescência - Parte 2

            
Os hábitos de dependência dos pais.

É comum o adolescente ver o pai chegar à noite em casa e tomar seu uísque, sua vodka, sua cerveja, bem como ver a mãe à noite se entupir de calmantes, fumar seu cigarro ou mesmo apreciar sua cervejinha. Como educar os filhos com a premissa que “faça o que falo e não o que faço”, se são as atitudes e ações que norteiam a fase educacional dos filhos? Como suprir sua necessidade de conhecimentos a um mundo desconhecido?

O que os pais podem fazer é tornar-se exemplo para os filhos. A maneira como os pais lidam com a questão da dependência tem muito mais efeito sobre o jovem do que as informações que são dadas, ou seja, o que se faz é muito mais importante do que o que se diz. As crianças e os jovens começam a aprender o que é droga quando observam os adultos em busca de tranquilizantes ao menor sinal de tensão ou nervosismo. Aprendem também o que é droga quando ouve seus pais dizerem que precisam de três xícaras de café para se sentirem acordados, ou ainda quando sentem o cheiro de fumaça de cigarros. Além disso, eles aprendem o que é dependência quando observam como seus pais têm dificuldade em controlar diversos tipos de comportamento, como, por exemplo, comer de modo exagerado, fazer compras sem necessidade, trabalhar excessivamente. (SILVEIRA, 1999. P.18)

Tais exemplos indesejáveis também propicia um registro profundo na mente da criança e do adolescente quando presenciam o pai chegar em casa embriagado e o mesmo ou a mãe acharem tais atitudes normais ou, o que é pior, tal fato vir acrescido de violências e agressões, verbais ou físicas. Outro fato condenável, mas nem por isso menos comum é a presença (às vezes em grande escala) de bebidas alcoólicas nas festinhas de aniversário das próprias crianças ou adolescentes.
Cavazos (1989) instrui que ajudar os filhos a resistir à pressão para usarem álcool e outras drogas, supervisionando suas atividades, sabendo quem são seus amigos e falando com eles sobre seus interesses e problemas; ensinar padrões de certo e errado e demonstrar esses padrões através do exemplo pessoal; ter sagacidade a respeito das drogas e dos sinais de seu uso; agir prontamente quando forem observados sintomas, são atitudes condizentes para manter os filhos livre das drogas, sem o estigma da dependência química.

O novo conceito familiar: a mãe no mercado de trabalho.

Papalia (2009) analisa que o impacto gerado pelo fato de a mãe trabalhar fora de casa e venha a afetar os filhos adolescentes depende de quanto tempo e energia ela ainda tem para dedicar a eles, de quanto ela fica atenta a seus paradeiros, e que tipo de exemplo ela dá, o tipo de supervisão que eles recebem depois da escola. Aqueles que ficam por conta própria, longe de casa, tendem a se envolver com álcool e drogas e a ter má conduta na escola, especialmente se eles tiverem uma história precoce de problemas de comportamento, porém o déficit não está na mãe trabalhar fora ou não, e sim no tempo que é dedicado ao acompanhamento do adolescente, pois muitas mães não trabalham fora e nem por isto acompanham de perto o seu desenvolvimento escolar ou suas atividades sociais.

As crises existenciais dos adolescentes e o conflito familiar.

Papalia (2009) esclarece que, tal qual os adolescentes sentem a tensão entre a dependência de seus pais e a necessidade de libertar-se, os pais quase sempre têm sentimentos conflitantes também. Eles querem que seus filhos sejam independentes, mas acha difícil não intervir. Os pais têm de andar numa linha tênue entre dar suficiente independência aos adolescentes e protegê-los de falhas imaturas nos julgamentos. As tensões podem levar ao conflito familiar e os estilos de paternidade podem influenciar seu formato e resultado. O monitoramento parental efetivo depende de quanto os adolescentes deixam os pais saberem de suas vidas cotidianas, e isso pode depender da atmosfera que os pais tenham estabelecido. Da mesma forma que acontece com as crianças mais novas, as relações dos adolescentes com os pais são afetadas pela situação de vida dos pais – seu trabalho, situação marital e socioeconômica.
Papalia (2009) esclarece que a maioria das discussões entre adolescentes e pais diz respeito a assuntos pessoais triviais - tarefas, trabalhos escolares, vestimenta, dinheiro, horário de recolher, namoros e amigos – mais que as questões de saúde e segurança ou certo e errado. O nível da discórdia na família pode depender em grande parte da atmosfera familiar. O conflito diminui do começo para o meio da adolescência nas famílias afetuosas e apoiadoras, e permanece nas famílias hostis, coercitivas ou críticas em demasia. A paternidade autoritária pode levar um adolescente a rejeitar a influência parental e buscar apoio e aprovação dos colegas a qualquer custo.
Pais que insistem nas regras, normas e valores importantes, mas são receptivos a ouvir, explicar e negociar, exercem o controle adequado sobre a conduta do adolescente, mas não passam por cima dos seus sentimentos. Encontram o equilíbrio da autonomia psicológica dos filhos, propiciando assim autoconfiança e competência nas áreas acadêmica e social.

Qual a probabilidade de que determinada pessoa jovem venha a abusar de drogas? Os fatores de risco incluem temperamento difícil, falta de controle dos impulsos e uma tendência buscar sensações externas, influências da família (como predisposição genética ao alcoolismo, uso de drogas pelos pais ou irmãos ou aceitação da família, práticas de criação frágeis ou inconsistentes, conflitos familiares e relações familiares problemáticas ou distantes), problemas de comportamento precoces e persistentes, parcialmente a agressão, falhas acadêmicas e falta de comprometimento com a educação, rejeição de colegas, associação com usuários de drogas. Quanto mais fatores de risco estiverem presentes, maior será a chance de que o adolescente ou o jovem adulto venha a abusar de drogas. (PAPALIA, 2009. P. 435).

Na adolescência é onde o jovem migra de uma condição de uma zona de conforto propiciado pelos pais, com a cautela da superproteção e parte para uma nova fase, com suas inseguranças, seus anseios e seus medos. Onde antes havia uma criança comportada, obediente, dócil, hoje há um adolescente rebelde, insubordinado e respondão, infringindo normas disciplinares para mostrar sua força e seu ponto de vista perante o mundo que ora se descortina perante si.

O risco do líder inescrupuloso.

Todo adolescente procura se espelhar em um líder, um “cabeça de turma”, e quando há a má sorte desse líder não ter certos conceitos éticos ou atitudes condizentes com o bom senso social, há o descaminho para atitudes errôneas, como drogas, promiscuidade e prostituição. O desejo a um pertencimento a um grupo induz o adolescente a ingressar nesses grupos de risco.
Chico Jr (1983) afirma que a única forma de diminuir o consumo de drogas é trabalhar no sentido da modificação da pessoa, estimular o autoconhecimento, a consciência, a personalidade. Sem um referencial existencial, o adolescente se droga.

Por sua imaturidade, os adolescentes podem ceder a pressões que os adultos seriam capazes de resistir. A influência dos colegas aumenta na adolescência à medida que os jovens buscam independência do controle parental. O desejo dos jovens pela aprovação dos colegas e o medo da rejeição social afetam suas decisões, mesmo na ausência da coerção visível. Colegas populares servem de modelo para o comportamento de um adolescente. (PAPALIA, 3009 p. 427).

Ele busca na droga a autoafirmação e a sensação de desenvoltura e a falsa sensação de segurança. É muito comum o adolescente ser tímido, inseguro e desajeitado e tal fato vir a gerar o bullyng, o que mais agrava a situação. Como fuga ele também poderá vir a se refugiar nas drogas, se no lar ele não tiver apoio ou a liberdade do diálogo familiar. A necessidade de se destacar perante seus colegas, ser bem “entrosado” e ser o “cabeça”, o “descolado” também o leva às drogas como forma de superar certas barreiras restritivas ou como um falso grito de liberdade e modernidade e infelizmente o líder costuma arrolar muitos outros nesse descaminho às drogas, pelo seu grande poder de convencimento e muitos outros adolescente o admira e quer ser igual.



Trechos do livro:   Drogas: Prazer e Morte
Autora: Agda Meneses
agdamenesesvd@gmail.com

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