sábado, 15 de junho de 2013

As drogas na adolescência - Parte 4

Comportamento antissocial e delinquência juvenil.

O comportamento antissocial na adolescência é influenciado por fatores de diversos níveis que interagem, abrangendo desde as influências do microssistema – como hostilidade entre pais e filhos, práticas insatisfatórias dos pais e colegas com desvio de conduta – até as influências do macrossistema – como a estrutura da comunidade e o apoio social da vizinhança.
Papalia (2009) esclarece que os pais moldam comportamentos pró-sociais através de suas respostas às necessidades emocionais básicas das crianças. Pais de adolescentes que se tornam antissociais podem ter falhado no reforço do bom comportamento na segunda infância ou podem ter sido hostis ou inconsistentes – ou ambos – na punição do comportamento impróprio. Através dos anos esses pais podem não ter se envolvido íntima e positivamente na vida de seus filhos. As crianças e adolescentes podem receber compensações pelo comportamento antissocial: quando se comportam inconvenientemente, podem receber atenção ou fazer o que querem. Esses padrões negativos precoces pavimentam o caminho para as influências negativas dos colegas que promovem e reforçam o comportamento antissocial. Quando as interações entre pais e filhos são caracterizadas por críticas constantes, coerção exasperada ou comportamentos rudes e não cooperativo, o adolescente tende a apresentar problemas de comportamento agressivo, que pioram o relacionamento entre pais e filhos.
As drogas minam a autodisciplina e a motivação necessárias para o aprendizado. O uso difundido de drogas entre estudantes cria nas escolas um clima destruidor do aprendizado. O consumo de drogas está intimamente relacionado com a “gazeta” e o abandono da escola. O uso de drogas associa-se ao crime e à má conduta que rompem a manutenção da atmosfera ordenada e segura de uma escola, desfavorecendo o aprendizado. As drogas não somente transformam as escolas em mercado de tráfico de entorpecentes como também levam à destruição de propriedades e à desordem em salas de aula. (CAVAZOS, 1989. P. 11).

Os jovens ao iniciar-se ao uso de drogas apresentam comportamentos ora agressivos, ora apáticos, ora eufóricos, porque a droga interfere no seu organismo e na sua psique, somando-se a isto as mudanças hormonais, transformando-os numa bomba-relógio, onde até os pais estranham e desconhecem esse novo ser, antes controláveis, hoje irritadiços e descontrolados, trazendo para o lar os desajustes próprios como consequência das drogas. A escolha de colegas antissociais é afetada principalmente por fatores ambientais. Os jovens se movem na direção de outros que foram criados como eles, que são similares nas conquistas escolares, nos ajustes e nas tendências pró-sociais ou antissociais. A maneira como adolescentes antissociais falam, zombam ou riem maliciosamente sobre violação de regras e concordam conscientemente entre si parece constituir um tipo de “treino para o desvio” e continuam a evocar a paternidade ineficaz, o que sinaliza para comportamento delinquente e associação com grupos de colegas com desvio de comportamento ou gangues.

A paternidade democrática pode ajudar os jovens a internalizar padrões que podem isolá-los das influências negativas dos colegas e deixá-los livres para influências positivas. Adolescentes cujos pais sabem onde eles estão e o que estão fazendo tem menos probabilidade de se engajarem em atos delinquentes ou se associarem a colegas com comportamentos desviantes. (PAPALIA, 2009. P.494).
Muitos pais alegam que não mais conseguem controlar seus filhos, ou que não conseguem entender a sua linguagem, mas se esses pais se esforçarem um pouco mais, permitirem um diálogo familiar saudável, procurassem ser “amigos” e não somente pais acusadores, parte desta distância linguística e comportamental seria superada e conseguiriam “adentrar” na vida dos filhos para melhor orientá-los e acompanhá-los nas suas incertezas, inseguranças e angústias propícios da adolescência.
            Veloso (1991) cita que as drogas não resolvem problemas de ninguém. Criam outros. Levam o usuário a uma viagem que para a maioria só tem bilhete de ida. A vida vivida na droga é curta, só apresentando três caminhos: o crime, a prisão, a morte. A desestabilização familiar é a consequência lógica e certa, levando à família vergonha, tristeza e prejuízos emocionais e financeiros, porque o efeito colateral da droga vai desde o desajuste físico, psicológico e social para todos.

O ambiente escolar, prevenção e participação dos adolescentes.

Diversas escolas têm adotado programas educativos com o objetivo de prevenção do uso indevido de drogas. Eles podem ser de grande ajuda aos jovens, sobretudo a partir do início da adolescência, desde que conduzidos de forma adequada. Informações mal colocadas podem aguçar a curiosidade dos jovens, levando-os a experimentar drogas. Mensagens amedrontadoras ou repressivas, além de não serem eficazes, podem até estimular o uso. (SILVEIRA, 1999. P. 27)

Como a adolescência é o período propício para a rebeldia misturado à curiosidade, faz-se necessário uma atenção toda especial para o tópico “prevenção às drogas”, abordando tal problemática de forma tranquila, mostrando de forma clara os malefícios advindos do uso e abuso de drogas, sem a temática da repressão abusiva. O adolescente deve ser levado à atitude do não uso às drogas pela sua própria percepção e decisão da escolha, incutindo-lhes a certeza que o fato de não usar drogas demonstra maturidade pela escolha pessoal. A atitude da proibição, repressão, imposição só o aguçará mais ainda para o ato do uso de drogas.
Silveira (1999) alerta que nos programas de prevenção mais adequados, o uso de drogas deve ser discutido dentro de um contexto mais amplo de saúde. As drogas, a alimentação, os sentimentos, as emoções, os desejos, os ideais, ou seja, a qualidade de vida entendida como bem-estar físico, psíquico e social, são aspectos a serem abordados no sentido de levar o jovem a refletir sobre como viver de maneira saudável. Diálogo e esclarecimentos devem ser contextualizados como informação e não como repressão, para que façam parte da discussão, eliminando a dicotomia professor-aluno.
Cavazos (1989) analisou que os administradores de escolas e os professores, frequentemente, não têm ciência de que seus alunos estão usando drogas, muitas vezes nas dependências das escolas. O uso de drogas não se confina a jovens de certas áreas geográficas ou de determinadas condições econômicas. O uso de drogas afeta jovens na nação inteira; embora o tráfico de drogas seja controlado por adultos, a fonte imediata de drogas para a maioria dos estudantes são outros estudantes. Mediante ao exposto, questiona-se: como proteger nossos jovens de inimigos ocultos pelo riso fácil, convivência diária e socialização dentro e fora da sala de aula? É devido à tamanha proximidade da droga que se faz necessário um trabalho sério de prevenção, na forma correta, no tempo adequado.

O uso de drogas, frequentemente, avança por etapas – vai do uso ocasional ao uso regular, ao uso de drogas múltiplas e, finalmente, à dependência total. A cada etapa sucessiva, o uso de drogas intensifica-se, torna-se mais variado e resulta em efeitos debilitantes. A melhor maneira de combater o uso de drogas é começar os esforços de prevenção antes que as crianças comecem a usar drogas. Esforços de prevenção que se concentrem em crianças novas são o meio mais eficaz para o combate ao uso de drogas. (CAVAZO, 1989. P.7).

Em qualquer ângulo analisado, sempre a prevenção é o método mais eficaz e indolor para a prevenção às drogas, porém, para tal, deverá haver um trabalho conjunto entre pais, escolas, municípios, estados, todos imbuídos no objetivo único de manter as crianças longe das drogas, porém a cada dia mais falta vontade política, interesse dos pais ou energia aos professores, todos envoltos na estafante luta da sobrevivência, deixando à mercê dos aliciadores os nossos jovens.
Grego Filho (1989) enuncia que as medidas de combate devem visar os dois polos do uso indevido de drogas; a oferta e a procura, o traficante e o que possa tornar-se viciado, a facilidade da obtenção da droga e o narcômano em potencial. O combate, exatamente, usa a metodologia inversa dos que buscam incutir o vício, os quais procuram aumentar e facilitar a oferta e induzir a procura. Medidas preventivas são as mais importantes, porque visam evitar a implantação do vício e aplicam-se ao destinatário das drogas, isto é, à população em geral, e ao fornecedor.  Quanto ao destinatário, as medidas preventivas devem ser educacionais e sociais.

Papalia (2009) esclarece que a qualidade de vida escolar influencia fortemente as conquistas dos alunos. Uma boa escola de ensino fundamental ou médio tem ambiente seguro, organizado, recursos materiais adequados, uma equipe estável de professores e um senso comunitário positivo. A cultura da escola é um fator importante que influencia a conduta dos professores e estimula a crença de que todos os alunos podem aprender. Oferece também oportunidades para atividades extracurriculares, que mantém os estudantes engajados e evita que se envolvam em problemas depois da escola. Os adolescentes ficam mais satisfeitos com a escola se é permitido que participem da elaboração das regras, quando sentem o apoio  dos professores . Envolver os adolescentes em atividades construtivas ou habilidades profissionais durante seu tempo livre pode trazer ganhos de longo alcance. A participação em atividades escolares extracurriculares tende a diminuir a desistência da escola e ao envolvimento em situações e comportamentos ilícitos.

Ser uma parte da totalidade dos estudantes contribuir com a ação, sentir-se útil porque colaborou com a elaboração e execução do projeto escolar propicia uma grande integração do jovem com a escola, porque principalmente ele entende o convívio, os conflitos e os anseios dos adolescentes, é o seu mundo e a sua vivência. Se todas as escolas ouvissem os seus jovens, maior interação e menos evasão haveria, porque a escola precisa fazer parte do seu habitat natural. O jovem precisa sentir a necessidade de “levar seu intelecto para passear na escola”, porque o passeio significa prazer e o prazer é o que norteia nossa mente, e desse passeio ganhar de brinde o saber, a capacidade cognitiva e a vontade de se questionar e questionar a sociedade, porque é nas perguntas, nos questionamentos que se amplia o conhecimento. É verdade também que todo o planejamento deverá ser acompanhado por adultos conscientes e competentes, para que a escola não se transforme somente num campo lúdico de diversão. A dosagem certa para o ambiente certo – A escola como fonte de cultura.

Trechos do livro:   Drogas: Prazer e Morte.
Autora: Agda Meneses
agdamenesesvd@gmail.com

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